O trabalho numa ilha de montagem, poderia (se se quisesse) ser descrito como uma tortura psicológica. É escuro, é solitário, quase nenhuma ilha tem janela e é sempre com muita pressão. Prazos, diretores, produtores, pessoal de agência. Isso, não é uma excessão e sim o estado diário do nosso trabalho. Nesse clima, temos que construir histórias, trabalhar personagens e sermos criativos. Ainda, diariamente. Não é surpreendente que padrões de dificuldades físicas e emotivas tenham eco no nosso ofício.
Então, o que fazer? O nosso ambiente, claro, se tornará cada vez mais competitivo. E nós, cada vez mais velhos. Eu penso que a gente, que trabalha sentado nessas condições o dia todo, tem que encarar esse monstro de frente. ou seja, a gente tem que melhorar nossa produtividade pra conseguir sair da ilha, não só mais cedo e mais satisfeito mas ao sair, não gastar tempo de “vida” pensando nas sequências do dia seguinte. Muito se discute o quanto nosso cérebro já está lotado de informações nesse novo milênio e todos os seus paradigmas. Não há silêncio no cérebro e precisamos desafogá-lo ou ele nos estafará para que o façamos.
Eu confesso, gastei algumas horas livres, buscando maneiras de obter mais horas livres.
Obviamente existe muita literatura e informação sobre time management e produtividade. Mas gostaria de fazer 3 recomendações:
. O podcast: Fitness in post
Esse é o conteúdo mais claro e direto sobre esse assunto. O Zack Arnold, que é montador, discorre muito sobre os temas relacionados; postura, circulação, aflições cotidianas. O objetivo dele parece ser mais relacionado à saúde física, mas após ouvir alguns episódios, ficou claro que é sobre a nossa saúde mental também. Ainda que em inglês, é claro de entender e sempre há entrevistas com outros montadores que buscam essa liberdade da ilha. É muito interessante escutar montadores gringos com as mesmas aflições que nós.
. O livro “A arte de fazer acontecer” (Getting things done) do David Allen
Esse eu recomendaria à todos que trabalham no mundo. O método proposto é enumerar, catalogar, ordenar por importância todas as tarefas mas, não só as de trabalho, as de sonhos, as de casa, etc. E enquanto a gente faz isso, decupa a nossa vida. E, além... quando você coloca em prática o método, as tarefas e as angústias de ainda não tê-las feito, abandonam sua mente.
Recomendo porque eu mudei muito minha operação de vida depois de lê-lo. E sim, sou muito mais rápida e eficiente com ele.
. O livro “Scrum”
Aqui, mais para trabalho em equipe. Geralmente no brasil, não temos equipes de pós que trabalhem com métodos de divisores de tarefas. E quando temos, a equipe acaba não tendo contato com o que acabou por produzir e isso é uma pena. Ou seja, a pessoa rala e trabalha até se esgotar e acaba não vendo a diferença que fez no grande escopo do trabalho.
O Scrum é o método que tenta aumentar a produtividade da equipe e ainda, fazê-la ver o que faz e porque.
Mas de fato: não é fácil fazer o que um montador faz. Parece muitas vezes com desarmar bombas. Mas isso não significa que nós temos que fazer as coisas como sempre as fizemos. Não significa que não podemos ser ainda melhores profissionais e melhores humanos ao sairmos da ilha. E finalmente, que não podemos nos divertir fazendo o que a gente tanto ama fazer.
